terça-feira, 18 de março de 2014

Pocota


Pocota
Quando eu vi a Pocota (apelido carinhoso), saindo do meio do mato e vindo à minha direção, eu tinha certeza que eu tinha que salvar aquele pequeno pedaço de vida. Ela veio vindo, cambaleando e até então eu nem sabia se era ela ou ele, era um felino. Branco? Marrom? Preto? Assim, como o sexo do animal, a cor também era impossível distinguir num primeiro momento, tamanha era a sujeira do bichinho. Eu peguei aquele pedacinho de ser, e o levei embora.
Eu tinha certeza de que a dona da casa (Sra.Tingola-minha gata) iria enlouquecer com a ideia. Quem tem gato sabe o quanto eles podem ser ciumentos e brigões. Mas eu simplesmente precisava salvar aquele bichinho. Quando eu cheguei em casa, a reação da Tingola foi bem pior do que eu poderia prever. Ela tentou engolir a pequena. Engolir. Prendi a no banheiro, saiu. Prendi na coleira, se soltou. Quando finalmente ela percebeu que não a deixaria comer a pobre gatinha, se revoltou e foi andar por aí. O mais engraçado era que durante todo esse processo, a pequena Pocota, ficava apenas observando, sem um pingo de medo. Justo ela, tão pequena e a Tingola, quase 10 vezes o tamanho dela. Mas eu sabia que não poderia ficar com ela, se queria a Tingola de volta. Preciso achar alguém que realmente possa ama-la e dar todo o carinho que ela precisa, pensei.
Com a ajuda de uma colega, entramos em contato com a Amoga voluntários e após uma postagem na pagina da rede social, encontramos uma mamãe para a pequena.
Marido chegou e achamos que seria necessário leva-la primeiramente ao veterinário. Dr. Rafael foi logo dizendo: Ela está dodói. Mas nada grave. Só precisa tratar. E agora? Perguntei ao alemão. Vamos falar com a moça, se ela não quiser, nós ficamos. Disse ele. A Tingola vai acabar entendendo.
Quando expliquei para a Maiara, ela prontamente disse que iria ficar com a pequena. Quando entreguei para ela, tive a certeza de que havia feito a coisa certa. Salvei uma vida. De uns 10 centímetros, mas salvei.
Daí eu fiquei pensando no cretino ou cretina que abandonou esse bichinho. Só que ela teve sorte, encontrou pessoas apaixonadas por animais que prontamente cuidaram dela. Mas e os outros tantos que são abandonados todos os dias? Na página da Amoga, é todo dia a mesma coisa. Filhotes largados em caixas no meio da rua para serem atropelados, animais adultos mutilados pela sarna, carrapatos e inúmeras doenças. Pessoas que querem animais só enquanto filhotes. Pessoas que não castram, que não tratam seus bichinhos, que abandonam nas férias, toda uma barbaridade de coisas.
E tem gente que não entende esses voluntários. Acham que devem recolher todos os animais, pagar castrações, ração, consulta veterinária. E tem mais, gente que acha que os veterinários não devem cobrar nada pelo atendimento. E então eu pergunto? E os veterinários vão viver do que? Se não pode cuidar do bichinho, não tenha.
Falando neles, a Tingola voltou umas duas horas depois, terrivelmente indignada. Mas toda fúria já passou e a ciumenta até já voltou para a cama.
                                                                                 Gislaine Oliveira