Pocota
Quando
eu vi a Pocota (apelido carinhoso), saindo do meio do mato e vindo à minha
direção, eu tinha certeza que eu tinha que salvar aquele pequeno pedaço de
vida. Ela veio vindo, cambaleando e até então eu nem sabia se era ela ou ele,
era um felino. Branco? Marrom? Preto? Assim, como o sexo do animal, a cor
também era impossível distinguir num primeiro momento, tamanha era a sujeira do
bichinho. Eu peguei aquele pedacinho de ser, e o levei embora.
Eu
tinha certeza de que a dona da casa (Sra.Tingola-minha gata) iria enlouquecer
com a ideia. Quem tem gato sabe o quanto eles podem ser ciumentos e brigões.
Mas eu simplesmente precisava salvar aquele bichinho. Quando eu cheguei em
casa, a reação da Tingola foi bem pior do que eu poderia prever. Ela tentou
engolir a pequena. Engolir. Prendi a no banheiro, saiu. Prendi na coleira, se
soltou. Quando finalmente ela percebeu que não a deixaria comer a pobre gatinha,
se revoltou e foi andar por aí. O mais engraçado era que durante todo esse
processo, a pequena Pocota, ficava apenas observando, sem um pingo de medo.
Justo ela, tão pequena e a Tingola, quase 10 vezes o tamanho dela. Mas eu sabia
que não poderia ficar com ela, se queria a Tingola de volta. Preciso achar
alguém que realmente possa ama-la e dar todo o carinho que ela precisa, pensei.
Com
a ajuda de uma colega, entramos em contato com a Amoga voluntários e após uma
postagem na pagina da rede social, encontramos uma mamãe para a pequena.
Marido
chegou e achamos que seria necessário leva-la primeiramente ao veterinário. Dr.
Rafael foi logo dizendo: Ela está dodói. Mas nada grave. Só precisa tratar. E
agora? Perguntei ao alemão. Vamos falar com a moça, se ela não quiser, nós
ficamos. Disse ele. A Tingola vai acabar entendendo.
Quando
expliquei para a Maiara, ela prontamente disse que iria ficar com a pequena.
Quando entreguei para ela, tive a certeza de que havia feito a coisa certa.
Salvei uma vida. De uns 10 centímetros, mas salvei.
Daí
eu fiquei pensando no cretino ou cretina que abandonou esse bichinho. Só que
ela teve sorte, encontrou pessoas apaixonadas por animais que prontamente
cuidaram dela. Mas e os outros tantos que são abandonados todos os dias? Na
página da Amoga, é todo dia a mesma coisa. Filhotes largados em caixas no meio
da rua para serem atropelados, animais adultos mutilados pela sarna, carrapatos
e inúmeras doenças. Pessoas que querem animais só enquanto filhotes. Pessoas
que não castram, que não tratam seus bichinhos, que abandonam nas férias, toda
uma barbaridade de coisas.
E
tem gente que não entende esses voluntários. Acham que devem recolher todos os
animais, pagar castrações, ração, consulta veterinária. E tem mais, gente que
acha que os veterinários não devem cobrar nada pelo atendimento. E então eu
pergunto? E os veterinários vão viver do que? Se não pode cuidar do bichinho,
não tenha.
Falando
neles, a Tingola voltou umas duas horas depois, terrivelmente indignada. Mas
toda fúria já passou e a ciumenta até já voltou para a cama.
Gislaine Oliveira
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