"- Pela milionésima vez, eu NÃO estou grávida. Só estou com uma vontade de comer sagu, só isso – falei para as meninas do trabalho. Não tenho certeza se acreditaram, mas poxa vida. Uma pessoa não pode mais ter vontade de comer alguma coisa? E se fosse um homem com vontade? Iam dizer que estava grávido? Sei lá, do nada eu tive a visão de uma panela cheia daquelas bolinhas transparentes. Hum, que delícia. Aquele sagu de vinho que a minha mãe fazia. Ah, que vontade. Mas não posso mais pedir para ela fazer um sagu para mim. Com esse sentimento meio nostálgico, corri ao Super. Vinho, bolinhas de sagu. Casa.
- Hum, o sagu ficou realmente bom - elogiou o marido.
E eu birrenta, resmunguei: - Mas não como o da minha mãe. Eu queria aquele sagu dela. Ele era tão bom.
– Tão bom por quê? O que ele tinha de tão especial? – perguntou o marido.
- Eu não sei - respondi. - Ele só era. Ou será que não tanto assim? Não muito, eu acho. Minha mãe não era boa cozinheira. Ela não sabia nem fazer pipoca. Pensando bem, acho que o sagu dela era horrível.
Mas porque eu me lembro dele com um gosto tão bom? Ele hoje me parece muito melhor. Eu acho.
"Porque isso é passado. E o passado parece melhor do que era no presente." Falou meu inconsciente. E continuou. “Você era criança. Ele parecia bom. Você acha que ele era o melhor. Mas não era tanto. São as proporções. Tudo parecia maior, melhor e mais gostoso.” Será que é isso? Acho que sim. É, pensando bem, tudo parecia maior. Os animais, as casas. As pessoas. Tudo parecia mais bonito. Dia desses encontrei com um amigo da família que não via há anos. Levei um susto. Será que ele diminuiu? Ele era tão grande. Ou será que eu era tão pequena?
Será que é assim com tudo? Todas as grandes lembranças que eu tenho não passam de exageros criados pela minha mente? Será que todos os meus grandes amores, não passaram de casinhos? E todos os grandes amigos não passaram de colegas? Não gosto de pensar nessa hipótese. Era tudo grande. Amigos, amores, vontades. E hoje, nada mais parece grande. “É porque você é grande agora.” Mas então é isso? Virar adulto é ver tudo pequeno? Tudo agora parece menor, não tão bom e nem tão maravilhoso. Tudo parece normal. Nada mais parece tão grandioso. Nem os planos, nem as vitórias, nem as perdas. Nada mais parece perigoso.
Eu não sei, eu disse para meu inconsciente.
Mas enquanto isso, - passa esse sagu para cá, - eu disse ao maridão.
Hum, não é que as bolinhas roxas ficaram boas mesmo?" Gislaine Oliveira
Olá, meu povo amado. Tudo bem com vocês?
Esse é um texto bastante antigo meu, mas o facebook me lembrou dele e eu resolvi compartilhar com vocês. O texto é de 2014 de quando eu era colunista em um jornal aqui da cidade.
Acho que ele ainda reflete muito bem o que sinto às vezes.
Um beijão e até a próxima!
Oi, Gi!
ResponderExcluirConfesso que meu olhar bateu primeiro na manchete do jornal e fiquei me perguntando o que tinha a ver com seu texto hahahahha
Realmente virar adulto faz perder a graça de tanta coisa...
Beijos
Balaio de Babados
Sorteio Dois Anos de Família Hallinson
Olá, Gih.
ResponderExcluirQue chiqueza você, colunista de jornal hehe. Adorei o texto e concordo em partes. Ver as coisas pelos olhos de uma criança, é muito diferente. Mas quanto a comida, a da minha mãe ainda é uma delicia, mesmo depois de grande hehe. E parece que nada que faço fica igual ao dela hehe. E não sou só eu, as minhas irmãs traz ingredientes para minha mãe fazer as coisa porque não fica igual hehe.
Prefácio
Olá Gih!
ResponderExcluirA única coisa que consegui publicar em jornal foi quando estagiei num jornal de bairro mesmo. E era texto jornalístico.
Amei o texto e eu também me sinto assim. A gente lembra das coisas melhor do que elas realmente foram. A gente subestima o presente e enaltece o passado.
Beijos!
Oi Gih, sua linda, tudo bem?
ResponderExcluirPeço desculpas em visitar seu blog, tive uma crise na coluna. Achei o máximo você já ter sido colunista de um jornal, parabéns. Engraçado, eu vejo de forma contrária, acho que na fase adulta damos maior proporção que a infância. Quando pequenos, por mais contraditória que possa parecer o mundo é simples.Quando adulto, nós o complicamos e damos pesos que não existem.
OBS: Fiz a postagem divulgando seus lançamentos, mandei um e-mail para você com os links.
beijinhos.
cila.
http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/