Hoje estou aqui para falar de temas muito importantes. O bullying e o suicídio.
Como todos vocês devem saber, estreou na Netflix nos últimos dias a série baseada no livro Os 13 Porquês.
A série está com a temporada completa com 13 episódios e cada episódio tem cerca de 50 minutos. Eu estava resistindo e não pretendia ver logo, mas como muitas pessoas estavam assistindo, resolvi assistir, afinal já tinha adorado o livro. A resenha vocês podem conferir AQUI
Ainda não conclui a série, mas resolvi aparecer aqui e me manifestar um pouco. Estou feliz com a repercussão que a série está tendo, afinal muitos assuntos importantes estão sendo trabalhados. Mas ao mesmo tempo estou assustada e decepcionada. Infelizmente há muitas pessoas romantizando essa situação toda. Sério, gente? Sérião mesmo? Serião que vocês estão achando a série fofa? Que tal uma terapia em grupo, hein? Porque vocês estão com probleminha. Sério!
Então resolvi aparecer aqui e falar a real. Abrir o coração e bater de frente com essa galerinha. Vamos lá!
Pra começar que nessa vida todo mundo é um pouco Hanah e um pouco dos motivos. Quem nunca sofreu bullying? Quem nunca fez? De qual lado deveríamos estar? De nenhum! Porque ninguém deveria passar por isso. Então eu ainda quero falar da Hanah, mas hoje vamos falar dos porquês.
Se você ri do cabelo da sua amiga, se você espalha boatos, se você invade a privacidade dos outros, se você vê o bullying acontecendo e não faz nada, se você vê um amigo precisando de ajuda e diz que é frescura, se você não percebe o outro sofrendo... então você também é um dos porquês. O porquê que mata. Você é um assassino. Sem mais!
Sinto em dizer que a maioria de nós somos assassinos. Ou pelo menos tentamos matar alguém. Toda vez que cometemos os atos citados acima, matamos um pouquinho alguém.
Mas se nós temos o poder de matar, também temos o poder de salvar. E é sobre esse porquê, sobre o porquê que me salvou que eu quero falar hoje.
A escola é um lugar complicado, não é? Centenas de crianças e adolescentes, muitos professores, funcionários, direção. Todo mundo com uma crença diferente, com estilos de vida opostos. E somos jogados todos juntos, em uma jaula, obrigados a sobreviver. Com você não deve ter sido diferente. Comigo também não foi.
Passei o ensino fundamental todo sendo a garota esquisita. E sei lá, essa coisa de criança e inocência nunca me convenceu muito. Crianças podem ser terrivelmente malvadas. Ao chegar no ensino médio, resolvi que tudo aquilo ia ficar para trás. Eu havia crescido, tinha ficado "bonita", namorava um cara popular, tinha o melhor grupo de amigas... Isso durou dois anos. Foi no terceiro ano que o inferno apareceu.
Eu tinha acabado meu namoro, trabalhava fora, vivia cansada, bebia demais, perdia aulas... Não demorou nada, o bullying reapareceu. "Que garota tão descabelada." "Você viu a roupa dela?" "Deve ter passado a noite fazendo o quê?" "Já tá de namorado novo, você viu?" "Vadia!" "........."
Eu tinha uma única amiga nessa época. Uma boa amiga, sejamos sinceros. Uma amiga que sofria junto. Mas que não era vadia, não ia descabelada para a escola, não trabalhava fora, participava da igreja... Porém, ela amiga da garota fora do normal. Mas jamais direi que ela não foi importante. Ela foi sim. Mas às vezes, para sobreviver você precisa mais do que um bom amigo.
Foi aí que ele apareceu. E antes que você queira romantizar, sinto em dizer que não há nada de romântico nessa história. Nada mesmo! É uma história sobre empatia e não sobre amor.
Ele era o garoto popular, amigo de todo mundo, namorava uma garota legal... E por algum motivo, ele me viu. Viu a situação. Percebeu o que ocorria. Bateu de frente com os amigos, xingou toda e qualquer pessoa que teimava em querer me magoar. Conversou com os professores, tomou a frente, se tornou um quase amigo. Ou talvez amigo mesmo. Tanta gente que se diz amigo não faz metade do que ele fez.
Nada disso fez com que o bullying parasse. Mas tudo isso fez com que eu acreditasse que tudo aquilo era só uma fase. E que eu não estava sozinha. Todos os dias em que eu chegava na escola, era vaiada por todos os meus colegas. Mas ele mandava todo mundo calar a boca, ia até a minha mesa, sorria e me dizia oi. Nunca precisei fazer um trabalho sozinha. Ele trocou de lugar no espelho de classe, só para poder ficar atrás de mim. Assim ele podia evitar que qualquer pessoa tentasse cortar meu cabelo/grudar chicle em mim/ou colocar uma plaquinha nas minhas costas. Ele era o único que não conversava enquanto eu apresentava os trabalhos na frente da sala. Me impedia todos os dias de passar pelo "corredor da morte" que meus colegas faziam na intenção de derrubar os otários que passassem por ali. Obviamente eu era a otária perfeita. Foi ele quem teimou com a diretora dizendo que a melhor solução não era eu ser afastada da turma. Foi ele quem me salvou. Mesmo! Literalmente. Foi ele quem segurou a mesa no chão quando um dos colegas resolveu que agredir verbalmente era pouco. Foi ele quem fez esse colega pedir desculpas na frente de todo mundo.
Por favor, não me diga que você está achando isso fofo. Por favor, não me diga que você está nos shipando. Já disse que essa não é uma história sobre amor. É sobre empatia.
Ele foi o meu porquê. O motivo para que eu nunca tivesse pulado daquele penhasco, ou devorado todas as caixas de remédio. O motivo para que eu não tenha cicatriz alguma nos meus braços.
Ele não era meu namorado. Não era nem mesmo um amigo (pelo menos não oficialmente). Ele apenas não ficou calado. Era muito cômodo fingir que nada acontecia. A culpa não era dele, ele podia dizer. Não era ele quem me chamava de puta, não era ele quem roubava meus materiais, não era ele quem fechava a porta do banheiro. Não foi ele quem queria me matar. Mas ainda assim ele me salvou.
E eu espero que depois disso, você também salve outros. Você não precisa ser um herói, não precisa ser o mais forte, o mais rápido ou o mais durão. Você só precisa ter um super poder: a empatia.
"Dizem que o amor salva, mas eu acho que a empatia salva muito mais." Gislaine Oliveira.
E por hoje é isso, meu povo. Se você curtiu a postagem, compartilhe com os amigos.
Um beijão e até a próxima!
OBS: No meu livro, A Vadia, temos um personagem que foi criado como uma forma de agradecimento a esse porquê. Muito obrigada!
Oláá!! Tudo bem?
ResponderExcluirGostei muito de ler o seu texto, não por achar bonito ou fofo, mas porque acho que temos mesmo que falar sobre isso! Acho que temos mais ou menos a mesma idade e, na nossa época, bullying nem tinha esse nome, né? não tinham regras, nem nada.. mas eu sofri também, e muito! às vezes, eu chorava, às vezes eu queria ser outra pessoa.. mas acabei encontrando na escrita a minha fuga, ainda bem! nunca foi tão grave para mim, porque eu era tipo queridinha dos professores, então dedurava todo mundo... não me orgulho de nada disso, mas foi a maneira que eu e minhas amigas encontramos no meio daquele inferno chamado escola. pelo menos, eu tinha muitas amigas verdadeiras e eramos um grupo muito unido de pessoas que sofriam bullying, todas juntas, mas cada uma por um motivo particular. é triste, mas podia ter sido muito mais, né? :(
quero muito ver essa série! mas não sabia que as pessoas estavam romantizando assim não..
beeijo
http://lecaferouge.blogspot.com.br/
Oi, Gi!
ResponderExcluirSem palavras para elogiar seu texto.
Gente, essa galera que está romantizando a série assistiu tudo errado. A série é um grande alerta que alguns boatos e tratamentos de pessoas se tornam uma bola de neve na vida de alguém, principalmente se essa pessoa já é fragilizada.
Beijos
Balaio de Babados
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Oi Gi, sua linda, tudo bem?
ResponderExcluirEsse livro é super comentado, eu ainda não tive a oportunidade de ler. Acredita que descobri hoje sobre a série??? Achei super importante, sabe, esse assunto é muito grave e continua acontecendo e não é só com crianças e adolescentes, por incrível que pareça adultos também passam por isso. Vou ver a série com certeza!!!
beijinhos.
cila.
http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/
Ótimo texto, Gih! Eu concordo totalmente com você. Pensei nisso enquanto via a série. Todos somos um pouco da Hannah e um pouco dos porquês. Ninguém é inteiramente bom, mas podemos ao menos TENTAR ser. É triste ver que é necessário uma série com uma realidade tão triste ser lançada para que as pessoas se toquem, para que elas parem e reflitam sobre suas ações. Mas é assim que o ser humano funciona, né? Só depois que a merda acontece que eles percebem o erro. E eu espero muito que essa série mude as pessoas, que as ajude a enxergar as coisas de uma forma diferente, que ajam melhor com o próximo, mas infelizmente, sabemos que quando toda a febre passar, tudo voltará como antes.. O que nos resta é ter esperanças por um mundo melhor sem bullying, sem abusos, sem maldade, sem porquês
ResponderExcluirxx Carol
http://caverna-literaria.blogspot.com.br
Olá Gih!
ResponderExcluirAinda não vi a série e nem tô com tanta vontade de ver, porque eu não sou muito "Maria vai com as outras". Não é preconceito com a série, só não me interesso de ver mesmo. Quem sabe quando essa fama baixar um pouco?
Eu fiquei chocada lendo o seu depoimento sobre Bullying. Posso dizer que já sofri também, duas vezes também.
Uma foi o início do fundamental II, lá na 5º série. Escola nova, ninguém me conhecia. Era muito tímida e toda "aparentemente frágil". Virei o alvo de todos. Primeiro fizeram trocar de mochila, que foi a única que mais amei na minha vida, era vermelha, com um laço vermelho e de rodinha. Eu nunca tive mochila assim até então. E tava nova, tinha só um ano de uso. Fiz meu pai comprar uma bolsa para carregar no ombro, com um caderno super pesado. Se eu pegasse uma caneta emprestada e ela quebrasse na minha mão, eu tinha que comprar outra. E ainda lembro, de quando um menino me pediu para sair (cara, eu tinha 10 anos porra), ou melhor, pediu para um terceiro falar isto para mim. Inocente que sou disse que não iria porque minha mãe não deixava. Pronto! Os adultos de 11 anos me zoaram pelo resto do ano.
Na sexta série, teve um dia que eu tava doente, com conjuntivite viral, já estava me tratando e nem contagioso era. Neste dia, ninguém quis sentar do meu lado. Eu cheguei a chorar! Sem contar que nesse ano, comecei a ter dificuldade na escola, por conta da miopia, que descobri só no ano seguinte. Alias, foi neste ano que comecei meu primeiro livro.
Depois foi só quando fazia cursinho preparatório para prova militar. Garotas que passavam apenas o seu dia estudando, acharam a otaku esquisita, porque eu nunca fui muito de me arrumar mesmo, nem maquiagem uso, e me usaram de válvula para diversão. E me deram o apelidinho escroto de "Xing-ling", só por conta de coisas que gosto. Ainda lembro o dia que o professor me sacaneou com elas. QUE ÓDIO QUE EU FIQUEI! Ainda bem que eu tinha amigos lá e sim, eles me davam apoio. E não era a primeira vez que passava por bullying.
Alias, teve um dia que elas me trancaram no banheiro. HAHAHAHHA SO FUNNY!
Tem até um vídeo dessa época no canal do youtube, nome Bullying. haha
Preciso ir a facul e tô aqui digitando comentário. ahha
Beijos!