sexta-feira, 28 de agosto de 2015

O livro da Andressa Urach e onde fica a sororidade

Oi pessoal, tudo bem? Hoje eu vim aqui para falar sobre um assunto que vem me incomodando muito nos últimos tempos. Se você tem muitos amigos escritores no facebook, muitos blogueiros e afins, certamente sabe do que eu estou falando.

A Andressa Urach, aquela menina das mil e umas cirurgias que quase morreu e tal, lançou um livro que conta a sua trajetória de vida. Para quem ainda não conhece, segue aqui a capa.


O que aconteceu desde então, é uma avalanche de críticas a mulher. Ela deixou de ser uma pessoa, para passar a ser a vadia, a puta, a prostituta. Inúmeras autoras e blogueiras deixaram muito muito mesmo claro o quanto estavam indignadas com esta situação: a publicação do livro e o 1 milhão de livros vendidos no primeiro dia. 

A revolta é por que segundo elas, elas trabalharam, se especializaram, escreveram dias e noites sem fim e não tem este reconhecimento. E aí vem a Andressa, conta essa história maluca e vende tanto. 
Vadia, Cadela. Vagabunda. Tudo isso foi o que eu tive que ler na minha linha do tempo, que é composta basicamente por autores. 

Vamos por parte. 

O livro foi comprado por pessoas, estou correta? E o que as pessoas fazem com o dinheiro delas? Compram o que quiserem. "Mas Gih, com tanto livro bom, vão comprar justamente isso? E o meu aí, que conta um lindo romance." Gente, para. Para mesmo. De boa que eu gostaria que esse 1 milhão tivesse comprado o meu livro. Sério mesmo, juro para vocês. Assim como eu queria que eles comprassem o meu e não o seu. Mas a vida não funciona deste jeito e cada um compra aquilo que quer. Então aceita isso que dói menos. 

"Mas este livro só tem aberração. Ela conta que foi lambida pelo cachorro, que dormiu com mais de 2 mil homens..." Sério isso gente? Quanto livro hot tem por aí que é pior que isso. MESMO. Analisa seu livro. Será que ele é tão florzinha assim? 

Está todo mundo metendo o pau na menina, mas por que ninguém está metendo o pau na editora Planeta? Por que é ela que vai publicar não é? E provavelmente foi ela que procurou a Andressa para fazer esta publicação. Então se querem meter o pau em alguém e reclamar que seu livro não é aceito por editora, mete o pau na Planeta. Aliás, aproveito aqui e abro um parênteses. Editora quer vender. Ela só visa o lucro. Por isso bato tanto o pé que ser publicado por editora não quer dizer que você seja talentoso. Quer dizer apenas que seu livro é comercial. Sim, ele pode ser bom e comercial. Pode ser só bom. E pode ser só comercial. Por isso fiquei tão possessa com um vídeo do cabine onde o menino afirma que se seu livro não foi aceito por uma editora é por que ele não é bom o suficiente. É claro né garoto, seu livro com um tema super batido é maravilhoso. Aham tá. 

Continuemos. 

Mais uma vez, voltamos para os compradores. Ninguém está analisando quem comprou o livro. Ninguém parou para pensar que boa parte dos compradores, pode ter sido um bando de machistas que querem apenas ter ideias bizarras, ou bater uma enquanto pensam em como estuprar, abusar e fazer uma mulher se sentir um lixo, Ninguém parou para pensar também que alguns compradores podem ser mulheres que estão passando por situações terríveis e querem alguma força para mudar. Andressa se converteu, não foi? Quem sabe quantas mulheres seu testemunho não pode ajudar? 

"Mas Ela só quer ganhar dinheiro" . É bem provável que sim, MAS a editora também só quer isso. 

"Mas o livro é um lixo. " Você já leu? Defina para mim o que é um livro lixo? 

Agora vou pisar no seu calo. O problema é que ela é mulher não é? E está lançando este tipo de coisa. E nós, mulheres "direitas" precisamos nos diferenciar desta vadia. NÃO mulheres. Nós não somos direitas. Isso não existe. Não existe isso de mulher direita, mulher errada e mulher de verdade. E a Andressa não é vadia. Ela é uma pessoa e como tal deve ter todos os seus direitos assegurados. 

"Ah Gih, nada a ver isso que você falou agora." Você acha mesmo? Ontem vi uma matéria intitulada : 4 livros que vão fazer você querer ser analfabeto. 3 eram histórias de mulheres. Coincidência? Eu tenho certeza que não. 

É muito triste ver mulheres criticando outra irmã. Muito, muito triste mesmo, ver o patriarcado ganhando mais e mais força deste jeito. Eu sei mulheres, que a culpa não é de vocês. Que você cresceu aprendendo a competir. A se diferenciar dessas aí. Mas nós estamos aqui para te ajudar a se libertar. Tente só por hoje não criticar a moça. 

Agora se você leu ou ler o livro e achar ruim, aí pode sim, pode falar que para você ele é péssimo. Mas você não deve chamar a mina de vagabunda por causa da história dela. 

Não vamos deixar que os outros nos vejam como competitivas. A gente precisa unir forças. Precisa ficar junto. A gente precisa de mais sororidade. Só assim podemos ser empoderadas. 

"Ainda que você não se identifique com esta pessoa, não acha que ela merece respeito e dignidade? " Mulheres - Carol Rossetti. 

15 comentários:

  1. Olá Gih!
    Não discordo em nada do que você falou.
    Tudo bem que a Andressa, melhorou e se converteu e coisa e tal. Todos tem o direitos de cometerem os erros na vida, querendo-os ou não.
    E eu também tenho o direito de simplesmente não ler esse livro, porque ele não me interessa. Acho que é assim que as pessoas deveriam pensar. Vendeu 1 milhão? Ok! Mas eu não vou ler. Sei que não vai me agradar!
    Eu nem vou entrar em outros méritos em relação a pessoa biografada, senão eu vou me irritar. (Não das coisas que ela fez, mas sim que atualmente ela julga as pessoas que fazem o que ela fazia. Isso acho ridículo!)
    Beijos!

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    1. Não discorda? Ou não concorda? Cafundiu aqui kkkkk
      Sim, sim. Não sei sobre a vida da menina e tudo o mais. Eu também não lerei o livro provavelmente. Mas foi tanta gente xingando a moça e isso me incomoda demais. Não acho certo nada do que ela fez e tal. E se converter para mim, não significa muito. Mas xingar a moça, por que ela vendeu muito - por que foi por isso - não faz sentido. Xinguem a editora então

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    2. Sobre a vida da moça agora, quero dizer. Não a acompanho :P

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  2. Oi, Gih, que bom ver esse seu post! Nós, mulheres, precisamos de mais posts assim, para que mais mulheres entendam o que é sororidade! Concordo com muito do que você disse, especialmente na parte do não julgar sem ter lido. A gente não conhece ela de verdade, não convive com ela, não sabe quem ela realmente é e o quanto do que ela mostra na mídia é verdade. Eu não pretendo comprar o livro, mas cada um compra e lê o que quer, e ninguém é melhor que ninguém.

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  3. Oi, Gih!
    Eu acho mesmo que Andressa só quer vender, a editora só quer vender e que o jornalista da universal que procurou Andressa para fazer o livro, só quer vender e dizer que a igreja salvou ela da vida que ela tinha. Eles estão errados? Não.
    Existem livros para todos os gostos. Eu, por exemplo, não gosto de romances, mas eles fazem muito sucesso com outras tantas pessoas. Ainda não sei se vou ler esse livro, mas provavelmente não lerei. Não por ser dela, mas porque o tema não me interessa.
    Gostei do texto. Acho que as pessoas tem que parar de criticar o que nem conhecem e parar de julgar as pessoas pelo gênero/estereótipo/sexualidade...
    Beijo

    canastraliteraria.blogspot.com.br

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  4. Como dito no comentário abaixo, existem livros para todos os gostos. Esse ato de ridicularizar a mulher é ridículo e inaceitável. Ninguém é obrigado a comprar o livro mas se alguém quiser fique a vontade! Como você disse, cada um faz o que quiser com o próprio dinheiro.

    http://criativosounao.blogspot.com.br/

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    1. É inaceitável mesmo Thales. Fiquei muito triste com toda esta situação :(

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  5. Olá, Gih.
    Em relação à publicação do livro em si, isso não é novidade. Editoras querem dinheiro; ela tem um potencial de venda enorme. Sem mais. Algumas pessoas não entendem que a literatura é um negócio como todos os outros, felizmente ou infelizmente. Neymar, Naldo, Andressa... Não leria livros de nenhum deles, mas se eu tivesse uma editora, eu os publicaria. Esse é o objetivo da editora. Lucrar. E vamos convir: se as editoras fossem publicar só livros bons, e não o que vende, mais da metade desses livros que fazem sucesso não seriam publicados. Eles são repetitivos, clichês, fracos... Mas vendem. É o mercado quem dita o produto, não o contrário.
    Em relação ao machismo, concordo que muitos comentários desse nível são feitos por pessoas que, conscientes ou não, defendem essa prática arcaica. Outros só estão com inveja mesmo pois ainda não tem um potencial de venda como o dela. Machismo ou inveja, as pessoas deveriam ao menos parar para pensar antes de defecar através de palavras em redes sociais.
    Excelente texto, Gih.

    Desbrava(dores) de livros - Participe do nosso top comentarista de agosto. Serão dois vencedores.

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    1. Excelente comentário Marcos, isso sim. Fico muito feliz que você tenha essa consciência do machismo. É muito difícil encontrar homens que entendam a luta. E adorei o que você falou sobre as editoras. É isso mesmo. É assim que funciona.
      Beijos

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  6. Olá, Gih.
    Excelente postagem. Eu nem sabia do livro até essa semana quando vi essa matéria que você citou sobre os quatro livros. Acho que cada um compra o que quer e lê o que quer também. As pessoas só sabem julgar tudo. O que eu gosto é bom o que os outros gostam é lixo. Já vi esses mesmos comentários em pessoas que leem Crepúsculo por exemplo. Não quer comprar não compra e deixa a menina ser feliz.

    Blog Prefácio

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  7. Oi, Gih!

    Excelente postagem!
    Se o livro saiu com tiragem de 1 milhão é porque tem gente para comprar! Se a editora soubesse que o livro X venderia um milhão de cópias, com certeza ela também faria tal tiragem do livro X. E se a editora tiver oportunidade de imprimir mais um milhão, ela vai fazer e isso é fato!!
    Cada um faz o que quiser com o seu dinheiro e ninguém tem nada a ver com isso...

    Beijo
    - Tamires
    Blog Meu Epílogo | Instagram | Facebook - Participe do sorteio e concorra a um exemplar do livro Como Eu Era Antes de Você e a um lindo marcador de página pintado à mão! :)

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  8. Exatamente, o livro vende porque tem público. Compra que quer. E além disso ela não está concorrendo à uma cadeira na academia brasileira de letras. O livro não tem pretensão de ser alta literatura. Agora se as pessoas não curtem livros comerciais, deveriam atacar então os best selelrs de um modo geral. Crepúsculo, 50 tons, o Código da Vinci, Nicholas Sparks, tudo estaria no mesmo caldeirão. Se fosse numa revista tudo bem? Mas livro não pode? Livro é um produto também.

    http://porquelivronuncaenguica.blogspot.com.br/

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  9. Oi Gih,
    Olha só concordo contigo em partes...Tudo bem que descer o nível e ficar falando palavrão não eras...porém sim fico indignada principalmente com os leitores do brasil que preferem ler sobre essas bizarrices do que um livro decente...e sabe o que mais me deixa indignada e que são os mesmos cidadãos que estão brigando porque o Brasil esta em crise...pois acho que que aquela famosa frase de que cada povo tem o que merece realmente se encaixa. Isso me deixa super triste.
    Beijos
    Raquel Machado
    Leitura Kriativa
    leiturakriativa.blogspot.com

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  10. Oi Gih.

    Ainda não li e vou ser sincera que não é um livro que me atrai. Não pelo que conta, mas sim porque não faz o meu tipo; gosto mais de fantasia do que biografia. Achei fantástico você dizer isso que não se pode julgar, afinal cada um escolhe as suas ações e cada um sabe o que é melhor para si. Não é porque eu não dormiria com 2.000 homens que a menina não pode fazer isso. Poxa, ela é dona do corpo dela, faz o que quiser com ele né!!!! Concordo plenamente que a editora é que tem que receber as reclamações e não a modelo, mas também concordo que a editora não vai escolher um livro porque a história é maravilhosa, mas sim pelo seu poder de venda e de lucro. Vamos parar com isso, nos unir e soar mais alto o nosso grito de independência! :D :D :D
    Bjoks da Gica.

    umaleitoraaquariana.blogspot.com

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  11. Acho que essa postagem é sobre, no mínimo, 3 coisas distintas: 1)A Biografia 2)O mercado editorial 3)O direito do leitor.
    E por identificar assim, segue meus comentários sobre: Biografias (autorizadas ou não, ou até mesmo autobiografia) é, em verdade, a história de uma pessoa, ou de um lugar, e que é uma coisa real, e sendo assim, há acontecimentos que nos agradam, são cômicos, são tristes, são vida. O povo entende o povo, a carne dói, o corpo sangra. É real, está posto. Seja de celebridade como a Hebe, seja de sub-celebridade como Urach, seja de ícones que talvez você nunca antes tenha ouvido falar como Malala. São história que não dependem do nome da pessoa e sim sobre o que ela quer falar, se sobre superação, sobre resignação, sobre a luta por direitos... sobre seus ideias. Isto é a biografia. E o resultado se é bom ou ruim quem dirá é o próprio leitor. Visto isso, temos o segundo ponto que é o mercado. Não importa se é auto ajuda ou ficção, se é estrangeiro ou nacional, o mercado editorial, ou seja, aqui falamos sobre as grandes editoras, elas, super gigantes e ricas, quer continuar assim, e por isso elas investem naquilo que dará resultado certo. Ou que pelo menos não dê muito prejuízo, já que livro não é bola ou boneca. Editoras fecham contrato com escritores antes mesmo deles escreverem algo só para vender a imagem e ganhar em cima disso, falo com propriedade depois de ver tantas Webcelebridades lançando livros e dando entrevistas, sobre o quê?, sobre aquilo que elas falam todos os dias. Não só isso mas como também os surfistas que sabem pegar essa onda e conseguir ganhar dinheiro em paralelo. Seja canal de humor, ícone pop, comentarista econômica no jornal matinal, a imagem deste indivíduo está diretamente vinculada ao produto e pode ser que por isso ele nos traga algo literário no mínimo genérico (Tempos Extremos de Míriam Leitão). É de pesar o peito quando ouço que mais um leitor deixará de resenhar porque fechou contrato com editora e lançará seu próprio livro. Fico feliz pelo sucesso que ele terá, mas sei que perdemos mais um combatente para o capital. E por fim, para fechar esse mega bloco comentário, todo leitor tem o direito de não ler o que quiser, porém não tem o direito de menosprezar aquilo que ele passa longe. Não cair no nosso gosto é diferente de usar de preconceito literário. E essa briga por bom senso literário vem de tempos remotos e o ultimo episódio de grande impacto foi com os livros do Green. Não levantem bandeiras militantes por gênero A ou gênero B, mas pela atitude da leitura. Tem gente que prefere chá, tem gente que prefere café, e há quem tome chimarrão. Não se preocupe em impor seu gosto porque o que importa é não morrer de sede.

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